domingo, 17 de janeiro de 2010
Zilda Arns
"Crianças precisam ser salvas não apenas da fome. É preciso dar a elas condições de ter um desenvolvimento" Zilda Arns em entrevista à Roberto Dávila, 2005. Foto Rebeca Pacheco.
É difícil acreditar que a tragédia que se abateu no Haiti tenha levado consigo uma das mulheres mais importantes que o Brasil já teve. Mas traz consigo uma sensação de dever cumprido, de uma guerreira que morreu em combate, embora de forma natural.
Doutora Zilda estava no Haiti para falar da Pastoral da criança, uma associação que nasceu em 1983 para salvar milhares de vidas pelo mundo à fora. Criou a metodologia que atraiu a atenção da ONU (UNICEF) e aplicou na cidade de Florestópolis, na região sul do Brasil, onde de cada 1000 nascimentos, ocorriam 128 mortes de recém nascidos. Com a sua prática e sensibilidade, notou que o grande problema destas mortes era a falta de educação, higiene e conhecimento das mães, em geral de baixa escolaridade. No primeiro ano da Pastoral(baseada no evangélio de João- do milagre da multiplicação), o número de mortes caiu para 28 à cada 1000. Ela sabia que apenas o conhecimento é capaz de salvar, e que além de salvar as crianças da fome, é necessário que se dê a essa criança condições de vida, condições de brincar e se desenvolver. Hoje suas sementes estão lançadas em mais de 15 países, como México, Argentina, Uruguai, Bolívia, Costa Rica, Timor Leste, Angola e Moçambique.
Pregava a articulação de programas sociais associados a melhoria da educação e saneamento básico. Tinha uma visão sociológica bastante apurada e se incomodava com a elite brasileira, que segundo a mesma "só pensa no presente". Dedicou-se a salvar vidas, destinava muito mais tempo aos outros do que a sua própria família.
Mas guerreiros não morrem em vão. O exemplo de Zilda é o exemplo do bem, que uma sociedade mais justa e igualitária pode e deve se dedicar a conseguir.
Que Zilda descanse em paz. Ela foi um anjo que colocou seus conhecimentos em serviço de um mundo mais digno e menos pelo financeiro.
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