quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Aula 8- Geografia agrária

Evolução da agricultura
Atividade humana mais importante até a Revolução Industrial.
Passa a requerer a partir daí cada vez menos mão de obra, liberando os trabalhadores para as cidades. Ao mesmo tempo com o crescimento das cidades, o campo passa a ter a responsabilidade de alimentar a mesma.

Esse fato fez com que se iniciasse uma verdadeira revolução das técnicas agropecuárias, e então as cidades eram dependentes dos produtos agrícolas e o campo era dependente das máquinas e dos insumos necessários a produção além é claro, dos alimentos industrializados.

O setor agropecuário:
Tem o objetivo de desenvolver uma produção animal e vegetal mais eficiente para o consumo alimentar e para abastecer a indústria. É muito dependente das questões AMBIENTAIS, pois lida com seres vivos como sua principal matéria prima.
A revolução tecnocientífica
Principalmente após a segunda metade do séc.XX vem causando um impacto maior do que a revolução industrial. São técnicas modernas como biotecnologia, especialmente falando de engenharia genética, que é o estado mais avançado de interferência humana sobre os mecanismos evolutivos naturais (transgênicos).

Trangênicos
“Penso que o Brasil precisa de uma estrutura e uma legislação que permitam a produção em condições seguras, sem contaminação dos produtos não transgênicos.”
Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, em entrevista ao jornal O Globo, em 27/05/2007.

Transgênicos são alimentos geneticamente modificados que têm particularidades desenvolvidas pelos seus criadores. Uns são modificados para serem mais resistentes a pesticidas, outros a determinado tipo de clima que não eram originais à espécie. Podem por exemplo gerar frutos maiores, mais suculentos, com menos caroços e etc. Passaram a ser cultivados efetivamente na década de 1990 e os EUA são lideres nesse tipo de produção, seguido em menor escala por Argentina e pelo Canadá.

O Brasil do boi que come “o mato”.
O Brasil se tornou o maior exportador do mundo desde 2003.
Isso principalmente devido ao “Mal da vaca louca”.
É o seguinte: a vaca de outras nações se alimenta de ração, que inclui em sua fabricação, pedaços da própria carne bovina. Acredita-se que isso tenha alterado o metabolismo dos animais que acabam em alguns casos morrendo.
Aqui o gado se alimenta simplesmente do pasto “verde”, que temos em abundância.
Só que como a valorização da carne é constante, cada vez mais se desmata para criar pastos para o gado.
Então saímos de um problema e caímos em outro.
No Brasil existem mais cabeças de gado que brasileiros! São cerca de 200 milhões contra uma população de 183 milhões de pessoas.

Agricultura nos países desenvolvidos.
Uso maciço de tecnologia que gera uma forte integração do setor agrícola com a indústria.
Utiliza-se o termo ‘ agricultura Industrializada’.
Tratores, semeadeiras, adubos químicos e computadores no auxílio a produção agrícola.
Agricultura nos países subdesenvolvidos
Em sua grande maioria o processo de industrialização da agricultura ainda é pequeno. As agriculturas familiares e as plantations baseadas em mão-de-obra intensiva ainda são predominantes no espaço.
Agrobusiness – Estados Unidos.
Do séc.XIX até as duas primeiras décadas do séc.XX: intenso processo de integração do mercado agrário ao urbano-industrial. A mesma se completou em meados do próprio séc.XX. Produtividade crescendo velozmente.
Ferrovias construídas ajudando o escoamento da produção.
Produzir necessitava de grandes investimentos e com isso os pequenos produtores foram sendo ‘ engolidos’ e tendo de vender suas terras, gerando a concentração da propriedade fundiária.
Belts agrícolas- cinturões de produção especializados em determinadas culturas dominantes, quase sempre em combinação com culturas secundárias.

EUA- Potência agricola.
Agricultura: maior potência agrícola. Favorecida pelos recursos naturais (imensas plancíes úmidas e férteis), elemento humano qualificado, emprego de máquinas e técnicas. Problemas de superprodução. Para amenizar esse problema, tem sido dado maior incentivo à policultura comercial. Existem os Silos e Galpões que servem para armazenar o excedente da produção a fim de usá-la na entre-safra.
Planícies Centrais – principal área agrícola do país, drenadas pelo Mississipi e seus afluentes. Sudoeste – agricultura bastante irrigada = dry farming (culturas em áreas secas)
Belts (cinturões) – grandes áreas monocultoras. Alta produtividade. Principais belts:
Wheat Belt (cinturão do trigo) – Norte e Noroeste
Cotton Belt (cinturão do algodão) – Sul e Sudeste
Corn Belt (cinturão do milho) – Centro-leste
Fruit Belt (cinturão das frutas) – Flórida e Sudoeste
Pecuária: cinturão do leite ou de laticínio (Milk Belt ou Dary Belt) – região dos Grandes Lagos. Criação é intensiva (criação presa em estábulos e mantida com ração). Oeste – criação é mais extensiva (solta). Chicago é o maior centro mundial da indústria frigorífica (carne e derivados) e laticínia (leite e derivados)

U.E. e a política agrícola comunitária
Agricultura com tradições históricas com heterogeneidade tecnológica característica.
Inglaterra- berço da Revolução agrícola. A mais produtiva do séc. XIX. Mesmo assim importadora de alimentos.
França- menos produtiva mas ocupando grande parte do seu território. Pequenas propriedades abastecendo as áreas urbanas com seus excedentes. Era um país auto suficiente. Boa parcela da população vivia do trabalho agrícola.

Europa mediterrânea- Grandes latifúndios em Espanha, Portugal, Itália e nos Bálcãs. Exploração excessiva da força de trabalho. Na Itália a mezzandria era o sistema em que o camponês entregava metade de sua produção ao latifundiário.
Hoje a UE tem níveis diferenciados de industrialização da agricultura. O alto preço da terra e as menores taxas de produção puxam os preços dos produtos agrícolas europeus para patamares elevados em comparação aos produtos americanos ou brasileiros por exemplo. Por este motivo metade do orçamento da comunidade européia destina-se ao financiamento da Política Agrícola Comum (PAC).

PAC (Política Agrícola Comum)
1962

Unificação do mercado europeu- fixação do preço único por produto
Preferência de compra de produtos europeus
Definição de taxas comuns para importações extra-comunitárias
Subsídios diretos ao produtor.
Escudo para os produtores se protegerem do mercado mundial.

Agricultura nos países subdesenvolvidos
Baixa produtividade
Técnicas rudimentares, dependência maior de fatores naturais.
Excedente comercializado em mercados próximos.
Subsistência
Pastoreio, cultivos indígenas, arrozais em deltas- condições específicas de produção em diferentes locais do globo.
Plantations
Nasce durante a expansão colonial européia.
Áreas junto a portos facilitando o escoamento da produção.
No séc.XIX a Ásia e a África entram no mapa das plantations pelos Ingleses. A Índia era a principal área e recebeu investimentos em ferrovias também para facilitar o escoamento da produção
Atualmente estão presentes no Brasil, África, Ámerica andina, sudeste da Ásia.
Em geral esses países não consumem o que produzem, já que esse tipo de produção é voltado para o mercado externo.

Observações:
Apesar da pequena participação na riqueza e da pouca absorção de P.E.A., o setor agrícola é motivo de uma ‘guerra’ internacional real, entre as grandes potências e suas armas são desde tecnologia até subsídios aos agricultores. Essas ‘guerras’ são focos de negociações internacionais.
Países subdesenvolvidos ficam eternamente fora destas discussões e com seus potenciais inteira ou quase inteiramente inutilizados dada a alta produtividade dos países desenvolvidos; e ficam com sua agricultura condenada a plantations ou agriculturas de subsistência.
Agricultura e meio ambiente
A redução da biodiversidade ocorre com a modernização agrícola, uma vez que esta da ênfase a especialização da produção nas distintas áreas.
Isso gera por exemplo o desenvolvimento de pragas. Para combatê-las usam-se pesticidas. Estes intoxicam o meio ambiente e poluem rios e lençóis freáticos. Diz-se então que a agricultura pré-industrial, neste quesito é mais eficiênte.
Por isso uns defendem e outros atacam os alimentos geneticamente modificados, alegando que com eles as pragas são melhor controladas o que gera menos usos de pesticidas e outros defendendo que a transferência destes genes para outras ervas por exemplo podem torná-las superpragas.

Irrigação
A irrigação descontrolada gera a degradação do solo. A água atingindo camadas mais profundas do solo dissolve os sais trazendo-os para a superfície. Com a evaporação ocorre a salinização do horizonte superficial que pode matar as raízes.

A questão da água.
97,5 % salgada e presente nos oceanos
2,5% para o uso humano nem sempre disponível
1/6 da população mundial não tem água potável para consumir. Essa é a causa principal da maior parte das doenças pelo globo
A irrigação pouco eficaz é a maior consumidora de água e também o maior desperdício do planeta.

Brasil exportador de água.
1 ton de aço necessita de 15000 l de água
1 kg de frango necessita de 2000 l
1 kg de arroz precisa de 1500 l
1 boi durante 3 anos ( época média para o abate) precisa de 100 000 l
1 automóvel -6 000l (para testes de vedação e pintura)
1 kg de pão francês precisa de 1 000 l .
Isso é o que os especialistas chamam de “água virtual”. O país não bateria recordes em exportações se não fosse pela quantidade de água que possuímos.
Essa água não é percebida quando comercializamos os nossos produtos, mas sem ela a nossa produção estaria limitada. Não pela área para plantio, mas por falta do recurso, como exemplo clássico, o mar de Aral, que teve na época da URSS sua água desviada e simplesmente aniquilou por completo a produção agropecuária em seu redor.

Gotejamento como solução.
Mais de 60% da água usada na lavoura brasileira é desperdiçada.
Porém, com o gotejamento a planta recebe apenas a quantidade necessária, sem ocorrência de desperdício.
São tubos que atravessam a plantação com pequenos furos, onde a água saí e irriga o solo.
Com telas para redução do contato direto do sol com o solo fica menor o efeito da evaporação da pouca água utilizada.
Outros recursos para redução do consumo
Coleta de água da chuva em tanques
Utilização de uma estação meteorológica (custo em torno de R$5000) para a medição exata da quantidade de água à ser aplicada na plantação
Se a agricultura reduzir o desperdício da água será um grande avanço para o país, já que essa água passaria a ser usada em outros setores.

Brasil com a irrigação
Importante:
O nordeste do Brasil que tem pouco mais de 15% da área irrigada do país, começou no séc.XX a utilizar a técnica de irrigação com incentivo do governo para fixar a população. Entretanto a elite nordestina usando de ilegalidade se apropriou dos recursos e criou a triste e famosa ‘indústria da seca’. Mais recentemente novas empreitadas privadas criaram projetos fruticultores, principalmente para a exportação e para a agroindústria local. Esse processo ocorre na Zona da mata nordestina.

A agrária estrutura do Brasil
17% da P.E.A.(2007- IBGE)
23% do PIB(2007- IBGE)
Retaguarda do crescimento dos setores industriais e financeiros
Culturas agrícolas de maior desenvolvimento foram as voltadas para a produção de insumos industriais
Laranja, soja e cana de açúcar como exemplos

O Brasil rural tem a função de gerar divisas que acabam revertidas para o setor urbano industrial, com pagamentos de juros da dívidas e a compra de materiais importados.
Em 1970 a exportação era centrada no café
Depois soja, laranja, carnes, aves e fumo ajudam a diversificar a pauta.
As áreas para cultivo de marcado interno diminuem em conseqüência deste modelo.
Estrutura do espaço agrário do Brasil

Conflitos fundiários
O padrão principal da economia rural brasileiro é concentrador. Os estabelecimentos menores concentram apenas 3% da área produtiva. Do outro lado da tabela os grandes estabelecimentos que são cerca de 1% concentram cerca de 40% da terra.
Os trabalhadores que vão sendo expulsos da terra vão se tornando a frente de ocupação nas fronteiras da expansão da economia rural. São áreas com sítios e roças familiares.

Atores do campo
Grileiro é um termo que designa quem está na posse ilegal de prédio ou prédios indivisos, por meio de documentos falsificados, ou indivíduos que ocupam uma terra devoluta.
O termo provém da técnica usada para o efeito, que consiste em colocar escrituras falsas dentro uma caixa com grilos, de modo a deixar os documentos amarelados e roídos, dando-lhes uma aparência antiga e, por consequência, mais verosímil.

Posseiro é a pessoa que detém de fato a posse de uma gleba de terra, mas não é o dono de direito, não possuindo assim documentação e registro em cartório.
O tamanho desta terra não interfere na designação de posseiro. Pode se tratar de um morador antigo em uma terra devoluta ou privada (por mais de um ano e um dia), ou mesmo usufruir da terra através da contratação de mão de obra de terceiros, sem nela fazer sua morada definitiva.
O assentado da reforma agrária, antes de receber o título definitivo de propriedade do imóvel, como doação por parte do Governo Federal também é um posseiro usufruindo por ocupação uma terra da União.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Posseiro"

Latifundiário- Dono de grandes extensões de terra.
Gato- Pessoa que contrata pessoas (trabalhadores braçais) para as fazendas e grandes projetos agropecuários
Meeiros- trabalhadores arrendatários que têm como forma de pagamentos aos donos da terra a metade de sua produção.
Sem-terra- Pequeno produtor expulso do seu meio produtivo.

Em face a esses dois principais atores temos os maiores conflitos por terras registrados nestas regiões expansivas.
Surge a partir da década de 1970 o MST, hoje Movimento dos trabalhadores rurais sem terra em reação a violenta concentração fundiária.
No início esse movimento era formado por acampados vindos do meio rural.
Posteriormente foram incorporados bóias-frias, operários de obras acabadas, favelados entre outros.


Governo e MST divergem quanto a questão da reforma agrária.
Para este ela viria a contribuir com o fim dos conflitos, incentivos a agricultura para incremento da produtividade e absorver P.E.A. evitando parte do êxodo e do desemprego.
Para aquele isso não deveria ser aceito, e sim o conceito de “terra de trabalho” ao invés de “terra de negócio”. A terra deve ser meio de vida do camponês. Abastecer o mercado interno e não o externo.

Tendências recentes do setor agropecuário
O rural hoje é uma continuação do urbano no ponto de vista espacial
Grandes partes do território brasileiro vem gradativamente se urbanizando como reflexo da industrialização da agricultura e do transbordamento das áreas urbanas.
Complexos agroindustriais são exemplos deste modelo, que dirigem como devem ser as atividades agropecuárias a eles ligadas.

As relações de trabalho no campo
No ano 2000, cerca de 20% dos habitantes viviam no campo. Quase metade no nordeste
Existiam 15 milhões de P.E.A.’s no meio rural
1/3 destas em ocupações não agrícolas, que crescem em média 3,7% ao ano
O setor agropecuário tecnológico tem queda de 1,7% ao ano
Se assim permanecer, em 2015 a maioria da população rural estará empregada em atividades não agrícolas.
Soja
No final da década de 1990 o complexo agroindustrial da soja representava 16% de todo o complexo do país e gerava cerca de 1 milhão de empregos diretos.
Estudos mostraram que as melhores áreas para sua produção se davam entre o paralelo 20° de latitude de sul à norte .
Terras em grande escala nos favoreceram
E assim a soja se espalhou...
Grandes desmatamentos e avanço da “fronteira agrícola” principalmente no Mato Grosso.

Produção mundial de soja
Começou a ser produzida no sul
Hoje é produzida em quase todos os estados da federação
A calagem (adição de calcário que reduz a acidez dos solos) foi quem deu condições para a expansão desta lavoura no centro- oeste do país,
É resultante tanto da expansão quanto da substituição das culturas pela oleaginosa.
Fronteira agrícola

Crise mundial de alimentos.
Causas prováveis:
Aumento do consumo mundial
Aumento do valor do petróleo
Crise ambiental mundial
Subsídios dados a produtores em países ricos
Incentivo a política de produção de biocombustíveis (biofuel).

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